"Este livro de Kátia Tavares é mais uma contribuição preciosa para a constituição do pensamento crítico no cenário penal-criminológico brasileiro. É Nilo Batista quem nos ensinou que os penalistas têm uma antena muito sensível para o aumento da conflitividade social pela expansão da criminalização seletiva e histórica. Kátia Tavares ocupa uma posição privilegiada nessa escuta das turbulências políticas por sua militância como advogada, na trincheira da contenção do poder punitivo. No seu caso, essa escuta é afinada pela condição feminina num cenário profissional patriarcalista e muitas vezes misógino.
Ao debruçar-se na questão das drogas e, especificamente, na incidência das condenações por tráfico de mulheres pretas e pobres em sua maioria, ela desvela um monumental aparato de controle coercitivo e violento no nosso sistema de (in)justiça. Todos já sabemos que a guerra às drogas, imposta ao Brasil pela geopolítica estadunidense há mais de cinquenta anos, é um fracasso absoluto em seus objetivos explícitos. O proibicionismo bélico nunca diminuiu a produção, comercialização e o consumo das substâncias alcançadas pelas legislações draconianas. Mas é um sucesso na legitimação da criminalização e extermínio das populações pobres e não brancas e no controle duro das favelas e periferias brasileiras. Tudo é aceito em termos de barbárie se o objeto da fúria policial recebe o rótulo de ?traficante?, essa categorização fantasmática."
Vera Malaguti Batista, na apresentação da obra.