Ernst Jandl (1925-2000), poeta, tradutor e professor austríaco pertence a uma geração de escritores em língua alemã cujos membros, após o término da II Guerra Mundial, encontraram na experimentação literária a possibilidade de desenvolvimento de uma nova linguagem a salvo de seu passado histórico recente. Ao lado dos poetas do chamado Wiener Gruppe, “Grupo de Viena” (constituido por H.C. Artmann e Gerhard Rühm, dentre outros), Jandl leva a cabo na Áustria dos anos 50 a continuação do percurso iniciado no começo do século pelas principais vanguardas germânicas como o expressionismo e o dadaísmo. Estilisticamente, ele joga com as palavras, cortando e distorcendo, misturando, distanciando vogais, realizando trocas de consoantes, removendo sílabas, misturando palavras de diferentes línguas, empregando padrões gráficos e elementos tipográficos para a transmissão de significados, dentre outras experimentações. Associados à materialidade da língua, dois elementos primordiais estão presentes em sua poesia: humor e seriedade existencial. A cada volume de poesia, Ernst Jandl conquistou poeticamente novos caminhos - desde os poemas em uma língua desconstruída, cujos estilhaços foram capazes de formar novos e múltiplos sentidos, até sua poesia madura que transforma a doença, o declínio físico e outros temas em poesia de grande valor. Como renovador da linguagem poética alemã, a utilização de recursos visuais e sonoros vieram junto a temas críticos dos valores burgueses e das convenções sociais. Ironicamente, apesar de seu caráter vanguardista, ele se tornou bastante popular devido à jocosidade de seus poemas. Com acompanhamento de músicos de jazz, Ernst Jandl fazia leituras de seus poemas ao vivo com a audiência de um enorme público. Além disso, muitos de seus poemas são utilizados em livros didáticos alemães, devido à sua forma lúdica. Com seleção e tradução de Myriam Ávila, a coletânea de poemas Eu nunca fui ao Brasil contém poemas do lendário volume de 1966, intitulado “Laut und Luise”, cuja publicação levou a poesia experimental de língua alemã a um novo patamar. Há também poemas do livro “Ottos Mops Hopst”, de 1988 e “Idyllen”, de 1989 e de “Vom Vom Zum Zum”. O título do livro Eu nunca fui ao Brasil, é uma referência ao poema Calipso, no qual o poeta se queixa de nunca o terem convidado a conhecer nosso país.