Dois modelos de instituição põem-se hoje entre o Estado (a sociedade política) e a sociedade (a sociedade civil), as Agências Reguladoras e as ONGs. São pontes de ligação as Agências Reguladoras, no sentido do Estado para a sociedade civil e as ONGs, no sentido da sociedade civil para o Estado. No fundo, lugares de lobby e colchões amortecedores dos conflitos entre sociedade e Estado nas lutas contemporâneas do presente. É sintomático que assim se chamem. As Agências Reguladoras com a função cada vez mais explícita de organizar o interesse das empresas dentro do Estado. As ONGs com a função mista – há ONGs e ONGs, diga-se – de reproduzir, dos movimentos sociais às empresas, pessoas e organismos postados na franja do contato sociedade-Estado, às vezes com os mesmos propósitos lobistas das empresas. As ONGs na Amazônia na área da mobilização e presença ambiental são o tema desse ousado Imperialismo, ambientalismo e ONGs na Amazônia, de Nazira Camely, livro de quem conhece, por militância e vivência, o tema sobre que escreve. Desde longa data a Amazônia é objeto de cobiça externa – hoje interna, da expansão do agronegócio – denunciado hoje e sempre por geógrafos da estatura de Orlando Valverde. É nessa tradição que se coloca o livro de Nazira Camely. A dissecação da presença imperialista, agora travestida na roupagem do onguismo, como a autora refere-se a esse biombo, essa cortina de fumaça com que os grupos Internacionais e seus sócios e consórcios nacionais hoje aparecem, apresentados como preservadores do ambiente e da riqueza infinda e sem par que a natureza e a cultura amazônicas reúnem em seu seio, numa multiplicidade e síntese que não vemos em qualquer outro lugar. Um típico e mal disfarçado cavalo de Troia. Do Prefácio do Prof. Ruy Moreira.