O livro que Anne Thereza de Almeida Proença nos apresenta é uma viagem ao mundo dos médicos atuantes no interior
da província do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX. Como eixo condutor, o médico e suas múltiplas inserções e mobilidade no coração do Vale do Paraíba Fluminense. Como a jovem historiadora chama atenção, trabalhavam nos hospitais das casas de caridade, como médico de partido das Câmaras Municipais e dos grandes fazendeiros, como profissionais liberais, mas também se tornaram professores, escritores e políticos. E não era difícil vê-los casados com as herdeiras da elite local, reafirmando o seu papel na sociedade. O ponto alto desta pesquisa foi nos apresentar os hospitais
mantidos pelos proprietários em seus complexos cafeeiros e destinado ao tratamento dos escravizados, assim como sua
equipe: médicos e enfermeiros, sejam eles cativos ou trabalhadores livres. Esse livro, construído a partir de um conjunto vasto de fontes, é um contributo para a História das Ciências e da Saúde, mas também para o estudo sobre a província do Rio de Janeiro e para o estudo do Oitocentos.livro convida o leitor a conhecer os aspectos da presença dos médicos no Vale do Paraíba Fluminense da segunda metade do século XIX, época em que a figura do doutor não era naturalizada na sociedade, como estamos acostumados atualmente. Por isso, eles precisaram criar demandas para que seus serviços fossem preferidos frente as outras práticas de cura disponíveis para a população. Portanto, o grupo profissional será apresentado tanto como personagem quanto espaço de análise, revelando as formas de organização da assistência à saúde no interior Fluminense e as estruturas sociais existentes nesta importante região, devido a posição que passou a ocupar na economia e na política do Império brasileiro. Acompanhar os modos de inserção tanto profissional quanto pessoal dos clínicos apresenta-se como uma área peculiar de observação histórica, através da qual compreendemos as dinâmicas internas e externas deste grupo. Ao aprofundar o olhar sobre os espaços ocupados por eles no interior da Província do Rio de Janeiro, é possível construir também um panorama sobre a formação social do local.
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Sumário
CAPÍTULO 1:Os médicos como agentes sociais no vale do Paraíba fluminense:personagens e espaço de análise
1.1. A crescente presença médica no rastro do café
1.2. Dos locais de atendimento aos espaços de sociabilidade oitocentistas
CAPÍTULO 2: Inserção e atuação médica no vale do Paraíba fluminense
2.1. A cruzada contra os charlatães: os caminhos da medicina oitocentista
2.2. Médicos de Partido e a manutenção da salubridade pública
2.3. Profissionais liberais: os médicos por si
CAPÍTULO 3: Instrumentos de disseminação e legitimação popular do discurso médico:
os manuais destinados aos fazendeiros
3.1. Breve olhar sobre as possibilidades de utilização dos manuais e seu público-alvo
3.2. De fazendeiro para fazendeiro: os manuais elaborados pelas experiências na lavoura
3.3. Com a palavra, o doutor: seus manuais e a introdução do discurso médico nas fazendas
3.4. Das páginas à prática: a instalação de hospitais para escravizados nas plantations
CAPÍTULO 4: Uma casa que servia de hospital: a organização da assistência à saúde e a presença dos médicos
nos complexos cafeeiro
4.1. Os hospitais-rurais do vale do Paraíba fluminense: estrutura, recursos e equipe
4.2. Olhar contemporâneo ao funcionamento dos hospitais-rurais
CAPÍTULO 5: Bons partidos e bons políticos? Os caminhos que conduziram os médicos às cadeiras
da administração pública
5.1. Os bons partidos: laços matrimoniais e de batismo entre médicos e a elite cafeicultora
5.2. A estrutura política e jurídica do século XIX: novas funções dos médicos em seus município
5.3. Senhores doutores: os médicos na política