Antes de receber o Man Booker Prize 2014 com O caminho estreito para os confins do Norte, Richard Flanagan se destacou com O livro de peixes de Gould, um romance engenhoso que mistura a história da Austrália, colônias penais, o cientificismo do século XIX e a imaginação. O autor apresenta um falsificador de antiguidades que, em busca de peças que possam servir ao seu esquema, encontra um livro misterioso, escrito à mão, com diversas pinturas de peixes. O objeto, no mínimo curioso, não tem valor nenhum. No entanto, o livro some e seu desaparecimento é tão misterioso quanto a sua origem.
Determinado a não deixar a narrativa que o surpreendeu se perder, o falsário decide reproduzir o que recorda da leitura do livro de peixes. O leitor se vê diante de um relato de segunda mão que evoca o que teria sido escrito por Wiliam Gould, personagem histórico que, em 1825, foi condenado a cumprir 49 anos na Ilha Sarah, colônia penal que faz parte da Terra de Van Diemen, que viria a se tornar a Tasmânia, hoje parte do território australiano.
As desventuras que levaram Gould a cumprir pena em uma região remota se misturam com uma galeria de personagens curiosos. Criminosos que tentam se infiltrar na hierarquia da colônia penal, o excêntrico médico que deseja se tornar famoso e um capitão que pretende tornar a Ilha Sarah um local tão civilizado quanto a Europa. Flanagan articula as diversas histórias em 12 capítulos, cada um nomeado por um peixe pintado pelo protagonista.
Escrito às escondidas, em uma cela que fica cheia d’ água de acordo com as marés, usando os mais variados e estranhos materiais, O livro de peixes de Gould é um relato intrigante que reforça a importância de contar histórias como uma forma de ser manter são em um ambiente dominado pela violência, loucura e morte.