O gênero cunhado por Truman Capote (1924-1984) de "novela de não-ficção" teve seu ponto mais alto em A sangue frio, livro que consumiu seis anos de trabalho ao escritor. Mas é em Os cães ladram que Capote, numa compilação de vários textos, confidencia: "tudo o que consta aqui é factual, o que não significa que seja a verdade". Ainda no prefácio, revela que extraiu o título de uma conversa com o escritor francês André Gide. Capote estava preocupado com críticas a seu trabalho, e Gide, na tentativa de acalmar o ânimo do amigo, conclui com o provérbio árabe "os cães ladram e a caravana passa". É nessa atmosfera confidencial que Capote convida o leitor a compartilhar um pouco do que ele vivenciou ao longo de uma vida inteira de trabalho como jornalista para as revistas The New Yorker, Esquire, Vogue e Mademoiselle. O livro apresenta textos escritos entre as décadas de 40 e 70. No capítulo inicial, "Uma voz saída das nuvens", o escritor americano começa o relato na New Orleans da década de 20, sua cidade natal. Capote fala dos seus autores preferidos, do primeiro emprego na The New Yorker, da decisão de não cursar uma faculdade, do primeiro livro, Summer Crossing, e do seu segundo livro e sucesso, Other Voices, Other Rooms, que lhe rendeu o prêmio O. Henry, quando tinha apenas 23 anos. O autor de Bonequinha de luxo levou uma vida de excessos entre festas na alta sociedade regadas a álcool e viagens ao redor do mundo – também retratadas em Os cães ladram – na companhia do escritor Jack Dunphy (1915-1992). A personalidade controversa de Capote foi brilhantemente retratada por Philip Seymour Hoffman no filme de 2005, que lhe rendeu um Oscar de melhor ator. Na outra metade do livro, Capote brinda seus leitores com perfis de Louis Armstrong, Humphrey Bogart e Marilyn Monroe, além do retrato visceral de Marlon Brando, e com um dos textos que mais apreciou escrever, "As musas são ouvidas". Classificada pelo escritor de uma "curta novela cômica", é resultado da turnê da ópera americana Porgy and Bess em Moscou, à época da União Soviética. Aparentemente a companhia teatral não ficou satisfeita com o trabalho jornalístico do escritor, que nunca teve a intenção de satisfazer ninguém: "se inicialmente uma pessoa não fica descontente com minhas revelações ou descrições rápidas, amigos e parentes logo instigam o personagem a procurar maldades nas entrelinhas".