Os contos reunidos em Persona retratam personagens marcados pela angústia, em situações limite. O pintor relembra sua trajetória pontilhada de momentos em que esteve à beira da desistência. Quase cego, não consegue identificar as nuances de cores do entardecer nas montanhas do Sul de Minas onde se exila para viver os últimos anos de vida. O assassino do próprio pai tenta encobrir as manchas de vitiligo que se alastram pelas mãos com as rendas do vestido de noiva que pertenceu à avó. Olha-se no espelho e esboça um sorriso de triunfo e de prazer ao sentir o cheiro de sangue. Vive em ambientes sórdidos, depois de redigir pelo avesso o próprio código de honra. Ela oferece ao amante a própria irmã, carne fresca, na tentativa desesperada de segurar a relação. Marido e mulher entreolham-se nas escadas do sobrado, ao amanhecer. Sabem que um acabara de trair o outro. O jovem executivo angustia-se ao ver desaparecer no espelho os traços da mulher de rara beleza, persona que frequenta velórios de supostos amantes. O escritor de meia-idade questiona o sentido da separação, acontecida anos atrás, numa viagem a Roma. Ele sente a aproximação da morte e faz um acerto de contas com a vida. Acometido pelo câncer, se desfaz dos quadros e gravuras que dão vida ao local onde mora e inebriam sua existência com rasgos da mais pura beleza. Alimenta-se essencialmente dela. Alex Sgreccia fez sua primeira incursão na literatura ao publicar, em parceria com o fotógrafo Roberto Nardini, o livro Fotografia, o que será? (2011). Dez anos depois, lançou o romance Escrevo porque te amo e seu primeiro livro de contos Lá, onde vagam as estrelas (edições independentes, 2021). Persona é seu segundo livro de contos, com narrativas curtas que são quase poemas em prosa.