Um olhar encantado para a poesia de Drika Duarte, esta escritora potiguar que ora nos presenteia com Transversa – um livro convite para abarcarmos com as mãos a leveza das águas de uma cachoeira em plena cheia. Drika explora, neste livro, a temporalidade lírica que estamos aguardando nestes tempos de pandemia: poesia com leveza. Quando quase perdemos nossos referentes ontológicos, metafísicos, religiosos e científicos, preocupados(as) com a efemeridade da vida, que um vírus pôde causar ao mundo, “só tendo no prumo do rumo o amor como meta”, para unir as fissuras que romperam com a segurança, os nossos pontos “imaginados” como fixos. “Não se constrói o futuro com armas nos dentes” diz a poeta Drika, uma voz feminista que é puro abrigo, nas palavras, na linguagem, no fazer educativo e ambiental, inspirações para sua poesia-cântico, em que a natureza é lócus sagrado: oceano, fonte, mar, terra, a casa. A casa onde vivemos e onde nos refugiamos para respirar, “voar, viver os rituais do cotidiano, do tempo sagrado: nascer, alimentar, dar-se, gerar, tornarmo-nos sementes, esquecer, sentir as dores do mundo, lutar pela Pátria, sofrer pela Pátria, não desistir da Pátria, quando esta é ameaçada por estar nas mãos do rei louco que pensa saber governar. Quem entende do tempo sagrado, no arquétipo da Grande-Mãe, lê nas entrelinhas da poesia de Drika Duarte o acolher da Voz-Mulher que se perpetua em suas obras anteriores e que se mantém em Transversa. A mulher-poeta trans versa a palavra para “curar as feridas com muita pimenta no encarte”, empunhando na força da natureza o equilíbrio que as humanas forças buscam para (r)existir, no duplo sentido mesmo: existir e resistir, brincadeira gráfico-fonêmica para colocar em cheque a palavra poética de Drika Duarte. Eu me senti encantada pela voz suave sobre o mar, feito a sereia que que nos leva para mundos distantes, leves. Desejo a vocês, leitoras e leitoras, o mesmo prazer-exploração desse cântico.