Todas as grandes línguas da atualidade, nas quais se registram, veiculam e preservam, dentre outros, os discursos da literatura, das ciências, do direito, da religião e das comunicações de massa, iniciaram sua trajetória como toscas manifestações da oralidade popular que, para atingir o status de línguas de civilização, precisaram apoiar-se no modelo de línguas que já tinham essa condição, isto é, já eram dotadas de um extenso e abrangente vocabulário, capaz de expressar não somente conceitos corriqueiros do dia a dia, mas sobretudo as complexas nuances do conhecimento especializado e do pensamento abstrato. As línguas que mais frequentemente têm servido de modelo aos modernos idiomas cultos são as línguas de cultura da Antiguidade, as chamadas línguas clássicas (o antigo grego e o latim para o Ocidente, o árabe do Alcorão para o mundo islâmico, o sânscrito para as línguas da Índia, e assim por diante). O que temos aqui não é apenas um levantamento dos modos pelos quais as línguas podem criar palavras ou modificar as já existentes, tanto na sua forma como no seu conteúdo, porém mais do que tudo uma reflexão sobre as visões de mundo que orientam o léxico, vale dizer, as intenções, preferências, escolhas individuais e coerções sociais de quem, na maioria dos casos anonimamente, cunha um novo termo, o chamado neologismo. Mais ainda, este livro é uma tentativa de divulgação ao público leigo das conclusões de uma pesquisa sobre a história e a etimologia das palavras de algumas das línguas mais importantes do mundo atual, dentre as quais a nossa, e sobre como é possível perceber a visão de mundo subjacente ao léxico dessas línguas com base em metodologia científica.