Dez anos após os atentados de 11 de setembro, o que aconteceu aos Estados Unidos e como o mundo vê a alma americana depois da tragédia? Os medos e as paranoias que habitam o imaginário dos cidadãos norte-americanos fazem o terror de uma década atrás ainda parecer real? Dois presidentes e duas guerras depois – Bush e Obama, Iraque e Afeganistão – e o país precisa continuar seguindo um plano de reestruturação que diz muito mais respeito ao american dream do que ao plano econômico ou à política externa.E é exatamente deste debate, sobre a identidade perdida dos Estados Unidos pós-11 de setembro, que os jornalistas Pascal Dellanoy e Jean-Christophe Ogier sentiram-se compelidos a participar, mesmo tendo nascido do outro lado do oceano. Por isso convidaram outros jornalistas, cartunistas, escritores e até músicos e arquitetos, todos eles cidadãos do mundo, para reunirem nestas páginas as impressões da aldeia global sobre o atentado e o que veio depois.Nesta coletânea fascinante de pensamentos em forma de quadrinhos, entrevistas, ensaios e cartas, a idéia não é voltar ao que aconteceu, mas olhar para frente e evitar o “memorial”. Nos quadrinhos de Miles Hyman e Jerome Charyn, o que se vê é o retrato do pânico do day after. Com o inimigo potencial escondido em qualquer um nas ruas, os traços mostram os primeiros meses de um país invadido muito mais pela histeria coletiva do que pelo número real de cartas com a substância antraz. O passo seguinte é a desesperança. Seja na carta do escritor Russel Banks ao neto – retratando um país que entrou em colapso – ou na história futurística desenhada por Joe Sacco – imaginando um governo desenfreado e inconstitucional –, o “amanhã” é o tópico mais controverso da América.Chargistas de prestígio internacional, o francês Plantu e o americano Daryl Cagle travam um dinâmico e emocionante diálogo através de ilustrações e caricaturas sobre o futuro dos Estados Unidos. Na troca de correspondência, ao mesmo tempo espirituosa e deprimente, a zombaria, a sátira, a síntese brilhante e a imagem chocante fazem as vezes de parágrafos. Em entrevista ilustrada com desenhos de Lorenzo Mattotti, Art Spiegelman — autor premiado com o Pulitzer pelo romance em quadrinhos Maus — diz acreditar que os americanos comuns, depois de décadas de ensino deficiente, ainda conseguem viver o american dream; que enquanto tiverem suas casas, universidades e carros baratos e as crianças não se viciarem em crack, o país poderá ser salvo. Em 12 de setembro: A América depois, 19 artistas, que nasceram ou não nos Estados Unidos, mostram os soldados lutando em frente às câmeras, a vida íntima do front político, as perspectivas de uma nova vida num velho país, para provar que nada do que aconteceu até aqui foi um sonho.