A Revolução Francesa constitui, sem sombra de dúvidas, um dos marcos fundantes da modernidade, não só jurídica, política e social, como no que dela resultou em termos de mentalidade, apesar de mais de dois séculos que já nos distanciam daqueles acontecimentos. Suas propostas continuam a fazer parte tanto do léxico das relações de poder quanto dos seus discursos ideológicos nas várias expressões e colorações que assumiram nesse transcurso de tempo e que continuam a verbalizar nas suas projeções do devir. Nessa ótica, a maneira como Carlos Guilherme Mota capta o fenômeno, considerando-o à luz dos debates críticos mais recentes que se travaram na França e no mundo acadêmico internacional por ocasião do bicentenário e posteriormente, e o seu domínio da bibliografia e dos fatos e eventos relacionados - bem como o seu agudo discernimento crítico e combativo empenho no desfazimento de mitologias consagradas mesmo pela academia -, constituem muito mais do que uma mera descrição histórica dos sucessos, dos agentes e dos processos que caracterizaram o período. Pois em 1789-1799: A Revolução Francesa, que a editora Perspectiva publica na sua coleção Estudos, coloca-se ao leitor e ao estudioso uma indagação objetiva e profunda, em que as terríveis lições da História contemporânea estão presentes e, com todo o direito, interrogam o passado também sobre os sentidos dos ideais e das ações humanas em sua materialização na sociedade e na vida dos homens. J. Guinsburg