O inventário dessa tragédia que abalou o Brasil continua a ser feito. Não foi apenas um golpe militar. Nem somente um golpe civil-militar. É verdade que empresários, governadores e militares atuaram em sintonia. Tem faltado, porém, um elemento no banco dos réus: a mídia. O golpe de 1964 foi midiático-civil-militar. O banco dos réus jamais foi formado. Militares, torturadores, golpistas de todos os naipes e mídia se autoanistiaram. É hora de exumar esses cadáveres guardados em nossos armários. Alguns ainda se exibem em vitrines na condição de paladinos da democracia. Os militares jamais mudaram de versão: teriam agido para salvar o país do comunismo e garantir a “verdadeira” democracia. Os civis golpistas recorrem, quando saem de um mutismo estratégico, a argumentos semelhantes. A mídia tem sido mais ardilosa: reescreveu a história e a própria história dando-se, aos poucos, um papel heroico de resistência. Houve jornalistas que apoiaram o golpe e resistiram à ditadura. Os grandes jornais, de maneira geral, apoiaram o golpe e a ditadura. Este livro examina o melancólico e lamentável papel da imprensa no parto do regime autoritário implantado no Brasil em 1964. Grandes nomes do jornalismo e da literatura brasileiros cederam ao golpismo. Viram a chegada do caos nas reformas que tentavam arrancar o Brasil do atraso. A imprensa de 1964 atolou-se no mais rasteiro conservadorismo. Cumpriu a triste função de “cão de guarda” dos interesses das camadas mais reacionárias. Alguns jornalistas fizeram questão de passar recibo reunindo em livro, ainda em 1964, suas impressões. Esta obra completa um ciclo de “descobrimento”. A pesquisa, sustenta o autor, deve destapar, trazer à tona, revelar.