O prefácio de Fernando Morais - jornalista e autor de biografias famosas como Olga e Chatô, dentre outras - aponta que o projeto do livro é antigo: em agosto de 1976, ao retornar ao Brasil após um longo e conturbado exílio em diversos países, Almino lhe revelou que já havia começado a juntar os "documentos e fiapos de memória sobre o golpe militar" que agora foram, finalmente, publicados. "Trata-se, antes de tudo, de uma obra honesta", define Morais. 1964 na visão do ministro do trabalho de João Goulart tem o mérito de descrever, uma por uma, todas as causas que levaram ao golpe militar de estado naquele ano. Ao recuar no tempo até a era Vargas, permite-nos perceber também as diferenças. Se a pauta política econômica brasileira pouco mudara nesse ínterim - inflação, dívida externa, salários, sindicatos, reforma agrária - a guerra fria havia recrudescido e nos incluído na geopolítica mundial. A retórica do anticomunismo cresceu e reduziu a possibilidade de uma política externa independente como pretendia Jango. As pressões pelo atendimento de reivindicações de empresas americanas aumentaram. As negociações da dívida externa tornaram-se instrumentos para a desestabilização política do governo, em aliança explícita com seus adversários nacionais. Mais do que um documento histórico, mais do que um perfil político de Jango e de muitos outros personagens da política brasileira - ministros, parlamentares, militares, sindicalistas, empresários - a obra de Almino Affonso que a Imprensa Oficial do Estado e a Fundap estão lançando, é o depoimento verdadeiro de um homem político da maior envergadura - no tempo e no espaço - equivalente a um tratado cujas lições são indispensáveis se quisermos compreender o país em que vivemos hoje e sempre.