Tal como sugere o título, essa é a história de um, entre incontáveis deslocamentos forçados, a que foram submetidos mais de quatro centenas de vidas negras sequestradas de sua terra natal, a África, e encarceradas em um navio negreiro. Trata-se (talvez) do único registro de uma dantesca travessia que durou cinquenta dias pelos mares orientais e empreendida por marinheiros sem qualquer experiência no comando da complexa “máquina” que é um navio negreiro. O relato denuncia as artimanhas desse hediondo processo, ao cabo do qual os africanos traficados eram vendidos para outros continentes, onde, de modo desapiedado e cruel, permaneceriam explorados até o fim das suas vidas. Pouco antes do brutal desfecho do livro, o horror adquire novas proporções com a descrição do tratamento dado aos cativos em um tumbeiro, sobretudo nos sufocantes e imundos porões, onde a opressão era endêmica. Ao mesmo tempo, a causa abolicionista é reiterada com veemência cada vez maior pelo autor. A intrépida fragata H.M. S. Cleópatra assume sua posição de nau libertadora à frente do combate aos traficantes negreiros que infestavam à costa africana. Apesar do conservadorismo da forma, mesmo para os padrões da época (um narrador onipresente; neste caso, o próprio reverendo Pascoe Grenfell Hill), captura através da fina e requintada tessitura das palavras os retratos de homens, mulheres e crianças africanas, formando assim, uma galeria de personagens e cenários verossímeis; acima de tudo, escreveu um comovente romance sobre a luta contra o vergonhoso e imoral regime de escravidão.