A juventude negra brasileira está sendo exterminada. Recentes estudos sobre a violência no Brasil, compilados no Mapa da Violência, revelam um número assustador: 59 jovens negros são assassinados todos os dias. Não, esses jovens brasileiros não são invisíveis. É o que o fotógrafo Edu Simões decidiu mostrar, viajando pelo país para retratar jovens das periferias de diversas cidades, como Belém, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, dando corpo a esta cruel estatística. Busca, com isso, dar visibilidade a essa intolerável realidade brasileira, herança de uma política de apagamento
social, como sublinha a pesquisadora, escritora e ativista Juliana Borges, importante voz no debate contemporâneo e que apresenta em "59" um iluminador texto sobre o contexto histórico da violência contra negros no país. Cristianne Rodrigues, experiente curadora de fotografia, brasileira radicada em Paris, onde realizou diversas exposições como curadora da Maison Européenne de la Photographie (MEP), entre outras instituições francesas, apresenta um surpreendente panorama da representação da população negra na iconografia ao longo de quase duzentos anos, analisando como a contribuição de Edu
Simões apresenta esses jovens negros de outra forma: altivos, resistentes, com identidades e subjetividades. “Gravados no centro da imagem, em pé, de corpo inteiro, silenciosos, são eles que nos olham nos olhos”, destaca Cristianne.
Edu Simões é um fotógrafo com mais de quarenta anos de carreira, celebrado nos campos do fotojornalismo e da fotografia de arte, tendo sido reconhecido por prêmios como Vladimir Herzog de Direitos Humanos e Marc Ferrez. Além dos 59 retratos, Edu apresenta um pequeno texto em que reflete sobre os perigos da dinâmica do fotojornalismo que insiste em associar imagens de jovens negros com o crime e com a morte, criando uma naturalização desses assassinatos em massa. “Para fugir dessa armadilha, optei por singularizar cada um dos jovens retratados, destacando-os como pessoas providas de identidade, potência e vida. Não são números, mas pessoas. A proposta deste livro é tornar visíveis os invisíveis, e ainda mais, assegurar que a importância de todos os jovens negros brasileiros, de cada um deles, seja reconhecida. Que suas vidas sejam preservadas e legitimadas.”, diz o fotógrafo.
O livro apresenta capas diferentes, com cada um dos 59 jovens fotografados.