Genoveva Bravo Genovés vive em Therox, lugar fictício dentro de um país real. Lugar de nome tão forasteiro à Bolívia como os agentes da DEA infiltrados na cidade, cuja economia depende sobretudo do narcotráfico. Uma garota como tantas, como todas, buscando algo de identidade em meio ao dia a dia com sua família, ao convívio com as colegas do colégio só para senhoritas, ao encantamento com o misterioso Mestre Hernán e sua aura de guru new age. Neste romance de formação da boliviana Giovanna Rivero, os rígidos valores do catolicismo, tão arraigados em nosso continente, colidem com o misticismo popular que a adolescente vivencia em casa ao lado da cálida e colorida figura da avó. A separação de tempo e espaço (estamos em meados dos anos 1980) em nenhum momento afasta Genoveva de nós. Pelo contrário, seu crescimento ao longo do romance nos parece tão próximo, sua dimensão humana tão visceral que nos tornamos mais do que testemunhas de sua história; enquanto nossa heroína-narradora escreve em um diário todos os pensamentos e até as maldades próprias da soberba juvenil, nos tornamos seus confidentes, uma espécie de diário-leitor (ou leitor-diário), capazes de entrever suas incoerências, falhas de julgamento, as mentiras que conta a si mesma, mas também sua ternura e, acima de tudo, a vontade de alçar voos maiores, muito maiores do que a pequena Therox pode oferecer.