Em plena maturidade, José Roberto Hofling escreve com o frescor da juventude de quando nos conhecemos mais de cinquenta anos atrás. Embora afastados pelos descaminhos da vida, reverbera ainda forte em mim a fidelidade que manteve em seu olhar ímpar. Para ele, a realidade nunca é coisa dada, que se possa viver sem pensar. Tudo, do ato mais corriqueiro e cotidiano à presença da morte, tudo está aberto a questionamento e investigação. Tudo é ambíguo. Paradoxal. Tudo é mais do que é, como se por trás de um “véu de seda” o narrador se visse no espelho a perguntar “quem é você?” A pergunta escapa ao lugar comum porque é expressão genuína da angústia que perpassa o universo do autor e na qual ele se sente já aninhado, com a certeza de que viver é essa incógnita eterna, sem resposta. Ou melhor, sem resposta única. Tudo é único e múltiplo, singular e plural. Sempre elegante e agudo seu texto evoca os universos que se entrecruzam de Júlio Cortázar e, talvez, mais pungentemente, de David Means. Não que os imite ou emule, mas simplesmente por fazer naturalmente parte dessa família de autores. Sua alma literária voa em múltiplos planos, a tecer delicados origamis, tão indestrutíveis quanto os de papel. Ler os contos de José Roberto Hofling é um fino prazer, uma viagem por uma galeria onde “uma porta [é] talvez uma saída ou um destino de fuga”. José Rubens Siqueira - Autor teatral e tradutor