Considerado um pilar da construção do pensamento marxista não só no Brasil mas em toda a América Latina, paradoxalmente, o legado de Ruy Mauro Marini é pouco conhecido no país. A América Latina e os desafios da globalização: ensaios dedicados a Ruy Mauro Marini reúne dezesseis ensaios de intelectuais consagrados, dedicados ao legado do pensador brasileiro, produzidos nos dez anos de sua morte.Para Theotonio dos Santos, identificado ao lado de Marini e Vânia Bambirra como a corrente da 'teoria da dependência', a vida de Marini como militante clandestino, exilado e revolucionário, 'só podia ser uma incômoda presença em nosso país'. No momento em que a emergência de crises agudas coloca em cheque os preceitos neoliberais, a homenagem a Marini cumpre um duplo objetivo - ao mesmo tempo em que busca corrigir a pouca difusão de sua obra no Brasil, retoma a avaliação sobre a produção teórica latino-americana desde os anos 1920, dialogando com os desafios que se apresentam no horizonte.Os ensaios de América Latina e os desafios da globalização retomam o aspecto político e militante das obras de Marini, os debates sobre as tendências do sistema e da economia mundial, a articulação entre a acumulação de capital e o trabalho, e o pensamento social latino-americano. Ao mesmo tempo em que recuperam a análise crítica sobre a produção teórica na região, os autores retomam, sob a conjuntura contemporânea, os conceitos e temas desenvolvidos por Marini.Para ele, as transformações socialistas não foram derrotadas com a emergência do neoliberalismo. Ao contrário, os projetos revolucionários devem emergir renovados para combater a intensificação contínua da superexploração e da exclusão interna. A avaliação de Marini é um contraponto poderoso a incredulidade disseminada junto aos parâmetros capitalistas. Suas obras dialogam com uma geração para a qual o socialismo se apresentava como uma tarefa imediata e emergia como uma transformação necessária e realizável.Os textos resgatam a reflexão sobre a conjuntura latino-americana, seus aspectos de construção social específica, e sua inserção num contexto amplo do desenvolvimento histórico da humanidade. Marini busca suas raízes em Karl Marx, Lenin, Rosa Luxembrugo e Trotski para repensar a produção social da América Latina, num tempo em que a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) postulava uma linha desenvolvimentista para a região.Suas contribuições não foram poucas - a teoria da dependência, os conceitos de subimperialismo, superexploração do trabalho e inúmeras reflexões sobre modelos participativos de decisão são alguns dos legados deixados por Marini, que estão presentes no debate sobre os desafios sociais de nosso tempo.