Como era a América quando Colombo desembarcou por aqui em 1492? Muito diferente do que nos contam nossos livros escolares, revela o historiador Charles C. Mann no livro 1491. Na maioria deles, o continente descrito como um território vasto, pouquíssimo povoado por primitivos cujas culturas inevitavelmente se curvariam diante do poderio europeu. No entanto, o que Mann – um historiador com alma de jornalista investigativo, que colabora com as revistas Science e Atlantic Monthly – descobriu é que, por décadas, pesquisadores já vêm encontrando respostas para essa pergunta. E, para sua surpresa, o que revelam em seus artigos é muito diferente do que pensa a maioria dos americanos e europeus, e pouquíssimo conhecido fora dos círculos acadêmicos especializados. Mas todos têm pelo menos uma coisa em comum: sugerem que muito do que acreditamos está muitas vezes errado. Por exemplo, Mann conta que em 1491 havia provavelmente mais pessoas vivendo nas Américas do que na Europa. Cidades como Tenochititlán, a capital asteca, reuniam populações muito maiores do que qualquer cidade européia contemporânea e, à diferença de muitas capitais no velho mundo, tinham água corrente e ruas limpas e ajardinadas. E, detalhe: as primeiras cidades no continente já prosperavam antes mesmo de os egípcios terem construído as suas grandes pirâmides. Mann sabe que muito do que relata no livro é especulação, ainda requer aprofundamento e pode sofrer mudanças com o passar dos anos. No entanto, suas descobertas chamam a atenção para um olhar relativista, que evita o etnocentrismo recorrente dos livros com foco na chegada dos europeus. Por isso mesmo, a intenção do autor não é fazer um relato cronológico e sistemático do desenvolvimento cultural e social do Hemisfério Ocidental antes da chegada dos europeus. Tampouco quer traçar uma história intelectual completa das mudanças recentes de perspectiva entre os pesquisadores que estudam os primeiros americanos. Em vez disso, 1491 explora os três focos principais das novas descobertas: demografia índia, origens índias, e ecologia índia. Considerando que tantas sociedades diferentes ilustram esses pontos de modos tão diversos, Mann escolheu exemplos entre culturas que estão mais bem documentadas ou que chamaram a atenção mais recentemente, ou que apenas pareceram mais intrigantes. Como é o caso da nova versão da vinda dos primeiros americanos, que podem não ter migrado pelo estreito de Bhering em 12 mil AC, como se especula, mas sim pelo Pacífico, de barco, dez ou vinte mil anos mais cedo. Ou revelação de que, no México, os índios pré-colombianos desenvolveram o milho através de um processo reprodutivo tão sofisticado que a revista Science o descreveu recentemente como a "primeira e talvez maior proeza de engenharia genética da humanidade"; ou ainda, os estudos que indicam que, na Amazônia, eram capazes de cultivar a floresta tropical sem destruí-la, processo que hoje os cientistas tentam recuperar.