A BORBOLETA E O SONHADOR

"“O SONHADOR CRIA A BORBOLETA NO CORPO DA ABUSADA."" As violências invisíveis, que se fazem sem fronteiras entre mundo interno e externo, somadas aos tempos em camadas de memória, dão vida a avatares. Depois da guerra, é tempo de viver e fazer viver. Duas puérperas dividem a sala de parto. Tagarelam, confi denciam e por vezes riem. Margot, escritora viúva, vê-se diante do fardo de criar o fi lho por nascer, enquanto a inspiração de criar vidas pela divina criação da escrita secou. Lisa, insegura, teme o fim do casamento se o nascituro não for varão, pois Gabriel é infl exível. “Até pacto com os deuses, ele fez.” Lisa dá à luz a fi lha, Querida; e Margot, ao fi lho, Querido, terminal. “As linhas pelas quais os deuses escrevem são tortas ou, divinamente retas?” Gabriel quer trocar o gênero de Querida: exercer violência e dela ser vítima. Violência invisível. O sonhador cria a borboleta no corpo da abusada. Arrancar o abusador é enlutar. A borboleta liberada sonhando o sonhador. Mesclam-se as prateleiras. De imaginação a imaginação, de eureca a eureca. De palavra a palavra."