“A confissão (2009) tem como protagonista o Conde Vladimir Hilario Orlov, especialista em “falar, contar, inventar” e “virtuoso da amnésia”. Com ele a leitora e o leitor sentam num sofá durante festejo familiar cheio de crianças e parentes de todos graus, num certo bairro de Buenos Aires. Um menino faz o relato disparar a toda ao se apossar das lentes de cristal de um velho projetor, cobiçadas pelo Conde. Este é um descendente de europeus do leste na Argentina profunda de peronistas e antiperonistas, fratura exposta na narrativa. Orlov, um intelectual “curtido no sindicalismo combativo e na imprensa trabalhista” mas com tendências aristocráticas, é também “um farsante inveterado” que nunca trabalhou e pretende ainda uma vez garantir a sobrevivência (leitmotiv recorrente em Aira) recuperando o pequeno tesouro com seu “brilho tóxico”. O que vem a seguir – um jorro de sangue do palato, a demora do médico no casamento da paralítica, as balas Átomo de Orlov-Moldava, as balas Gol Atômico, a fúria do velho Moldava com a concorrência, os cabecitas negras, Elena Moldava de Parque Patricios, a marcha dos Metalúrgicos, o duelo de relatos, a pobreza, o nenê fumante, o Amo do Jogo (da guerra), a potência de iluminação das imagens… –, o que segue não é (nunca é) passível de resumo na prosa de César Aira”. (Texto de Joca Wolf)
Tradução de Ieda Magri, Hugo de Almeida, Juliana Ribeiro e Mariana Teixeira