Sendo a paz algo almejado por toda a humanidade, torna-se importante compreendê-la a fundo. Este livro se debruça no processo de reconstrução pós-bélica do Timor-Leste, o peacebuilding. Após 1992, o peacebuilding tornou-se o principal instrumento de atuação para a paz das Nações Unidas, trazendo uma perspectiva que engloba a paz como sinônimo de correção de estruturas de violência consideradas fontes de conflitos, como, por exemplo, desigualdade, pobreza e fome, demandando a (re)construção de estruturas políticas, econômicas e sociais destruídas pelo conflito. Nesse sentido, o peacebuilding no Timor-Leste foi considerado um caso de sucesso nas operações pelos organismos multilaterais da ONU, onde se aplicou o modelo político e econômico da democracia liberal como o responsável por construir do zero um Estado livre das fontes do conflito. Entretanto, recortando a dimensão econômica desse processo e iluminando-a com as ferramentas analíticas fornecidas pela Teoria Marxista da Dependência, foi possível observar que os resultados são questionáveis. Isso porque as fontes do conflito não foram transformadas, ao contrário, em muitos aspectos intensificadas, e o mais importante, a reconstrução foi responsável por minar a possibilidade de autonomia do Estado timorense na gestão de seus recursos. Em síntese, pode-se perceber a estruturação de mecanismos políticos e econômicos que extraem riquezas financeiras e naturais do país resultando e, ao mesmo tempo, sendo resultado da violação do fundo de vida e de consumo da classe trabalhadora timorense. Assim, aqui você poderá encontrar uma crítica não à necessidade de se transformar as fontes do conflito ou de auxiliar um país destruído por ele, mas ao modelo pré-definido de Estado e política econômica que ajuda a desenvolver ainda mais os países desenvolvidos ao mesmo tempo em que implementa uma dinâmica de desenvolvimento desigual ou subdesenvolvimento no país auxiliado. Esta análise põe em foco a classe trabalhadora como um importante elemento de análise das Relações Internacionais, além de transpor os limites teóricos ao operacionalizar uma teoria nascida na periferia, a Teoria Marxista da Dependência, como um instrumento analítico indispensável para se compreender as relações entre centro e periferia.