Angélique levanta-se primeiro todas as manhãs, na casinha nos arredores de Porto Príncipe que divide com a mãe, a irmã Joyeuse e o irmão mais novo Fignolé. Numa madrugada cinzenta de fevereiro, a preocupação o domina: Fignolé não voltou e durante toda a noite os tiros não pararam de ressoar ao longe…Angélique la sage é uma menina submissa, uma irmã exemplar, uma mulher de trinta anos aparentemente resignada. Sua família, o filho que teve por acaso, os pacientes do hospital, constituem seu único horizonte. Joyeuse, bela, sensual, não abdicou de sua liberdade, de sua revolta, de seu desejo de felicidade e de uma vida melhor, apesar da miséria, da violência e dos sequestros que acontecem diariamente. Apoiadas pela mãe, figura protetora e pivô da casa, como suas queridas divindades vodu, as duas mulheres buscam notícias do jovem. Ao longo do dia e de sua busca, Angélique e Joyeuse, na realidade as duas faces do mesmo desespero, desenham uma geografia apocalíptica da cidade. Fignolé, militante decepcionado do Partido dos Indigentes, perdeu-se nas reviravoltas de uma luta impossível, nos perigos da desordem absoluta. Yanick Lahens, ao retratar com notável economia de meios o destino de uma família comum, constrói a alegoria de um país onde a monstruosidade gostaria de ser lei. Mas seu livro é pungente porque em cada página a revolta ensurdece e explode a vontade de viver.