Se a inteligibilidade do real é mostrar que, em algum momento, ele foi somente uma possibilidade histórica, então, inversamente, até que ponto tornar frágil e provisória nossa atual configuração do real apresenta-se como uma ação possível? Em que medida é possível produzir outra realidade e novo acesso a ela? E em que aspecto as lutas políticas, em suas diferentes configurações e transversalidades, permitem essa produção e essa outra abertura ao real? O pensamento de Foucault se caracteriza pelo ceticismo metodológico em relação à projeção do real e sua justificação em outro mundo, ao mesmo tempo em que aponta como a constituição de um mundo-outro pode vir a tornar-se realidade na imanência do nosso mundo. O fio condutor do livro pode ser sintetizado pela tentativa de legitimar as lutas políticas contra os excessos de poder, mediante a requalificação da disposição moral que as anima. Assim é que a espiritualidade política e a subjetividade revolucionária despontam como disposições individuais e coletivas diante dos diferentes exercícios de poder, os quais, em si mesmos, não são ruins, absolutos ou necessários, porém, desde sempre, perigosos. Diagnosticar os mecanismos abusivos desses poderes e apontar como eles são constitutivos de nossa racionalidade política constituem tarefas precípuas da filosofia, em sua luta por um mundo-outro.