No Ocidente, por muito tempo prevaleceu uma visão mecânica de um mundo regido pela razão. Essa concepção infiltrou-se como pano de fundo nas diversas áreas de conhecimento, inclusive dentro da arquitetura. Mas, atualmente, assistimos à passagem de um modo de pensar baseado na precisão para a concepção de mundo que, também, inclui a incerteza. Encontramo-nos, portanto, diante da oportunidade e da exigência de estendermos o olhar sobre o objeto arquitetônico e o espaço, ampliando-o e incluindo outros ângulos capazes de considerar o ponto de vista do habitante que frui e habita o espaço. A arquitetura é um campo vasto e complexo do conhecimento que abrange, simultaneamente, vários aspectos de um mundo exato e matemático, mas também e principalmente aspectos de um mundo não métrico, estético, vago e impreciso, que pertencem á sua dimensão simbólica. As demais dimensões, por si, não garantem um espaço humanizado e habitado que seja significativo para as pessoas que nele vão viver e que facilite o encontro humano, se não se considera como ponto de partida espacial o fato de estarem embebidos pela dimensão simbólica, moldada pela cultura em que o habitante e o lugar específicos estão inseridos. Os arquitetos dimensionam e localizam, por exemplo, determinadas paredes no espaço concreto e visível. mas esse espaço projetado estabelece, desde o início de sua concepção, vínculos às concepções de mundo, idéias, imagens, valores de determinados habitantes inseridos numa cultura especifica. Nesse sentido, através da visibilidade desse espaço concreto e visível, o arquiteto torna visível a invisibilidade nele incorporada. Assim, suas intervenções espaciais afetam a vida cotidiana dos habitantes e dos lugares, positiva ou negativamente, pelos ingredientes não visíveis que estão incorporados visivelmente às suas formas. Isso leva o arquiteto, especialista em conceber espaços, a perceber e a perguntar a respeito de quais as idéias ou valores são corporificados nos espaços e como isso acontece espacialmente. Portanto, sugiro alguns parâmetros ou pontos de partida em relação ao habitante e ao lugar específico, que podem fornecer ao arquiteto indicações quanto a esses possíveis significados, ajudando-o a conceber espaços habitados. De fato, os parâmetros aqui sugeridos não se encerram como verdades absolutas, mas como probabilidades sempre abertas, convidando o arquiteto a renovar o olhar sobre o cotidiano e a imaginar, constantemente, as múltiplas possibilidades que o espaço pode significar. A dimensão simbólica não sugere coisas a fazer, propõe coisas a imaginar a respeito das possíveis redes de significações que cada pessoa associa e imprime em seus espaços cotidianos.