A partir de 1960, os produtos que prometiam saúde perdem espaço para os que prometem beleza. E os automóveis ganham as páginas nobres das revistas. Itens restritos aos ricos - como televisores e telefones - chegam à classe média. Mas a grande mudança surge na linguagem da propaganda, com o uso quase abusivo de uma palavrinha: você. Se até então a mensagem era coletiva e impessoal, o crepúsculo do século 20 iria individualizar o consumidor: Feito especialmente para você, porque ninguém é igual a você. Ter tanto prestígio individual é ótimo, mas tudo tem seu preço. E dizer Eu tenho ou Eu posso foi ficando cada vez mais caro. Só que a mensagem era irresistível, tanto que, no início do século 21, itens antes considerados de luxo tornaram-se obrigatórios. E quem se atreveria, hoje, a chamar um telefone celular de supérfluo? Para a geração do Eu, ele é a quinta-essência do básico.Essa radical mudança refletiu-se diretamente no mercado de trabalho. Quando ter um empregO garantia uma existência simples, mas decente, as pessoas não viam problema em delegar seu futuro para uma empresa. Mas quando a necessidade cada vez mais urgente e precoce de ser individual, de ser diferente, de se sobressair na multidão tornou-se um projeto de vida, as relações entre empresas e empregados mudaram drasticamente. Neste livro, Marlene Theodoro nos leva a refletir sobre esse conflito em que a tão buscada individualidade está contida num universo empresarial que sistematiza e, não raramente, reprime. E nos mostra como o Eu moderno está tentando encontrar o equilíbrio pessoal, profissional e emocional que finalmente lhe permitirá não apenas possuir, mas, principalmente, desfrutar.