Não é possível contemplar Araquém sem tocar previamente alguns efeitos. Não fará sentido algum se seus poros estiverem estancados e untados com a indiferença, a apatia e a aceitação da morte como algo decidido. Não continue nesse livro se você não chorar por toda e qualquer vida perdida, se não ranger os dentes de horror diante dos massacres noticiados e silenciados diariamente no país; não perca seu tempo aqui se sua capacidade de se revoltar foi comprada por alguns trocados e se sua fome de mundo é a que devora e não a que cura. Se seus poros – antes dos olhos, os poros – estiverem anestesiados, sugerimos que, antes de se colocar diante de uma imagem de Araquém, você se delongue persistentemente diante do mais simples inseto, diante de uma formiga, uma abelha, uma barata. Aliás esse é um exercício que ele nos propôs: olhar por horas uma árvore e apenas contemplar. Quando você se apaixonar por ela, pelo milagre da vida que habita e pulsa em toda (até mesmo nas formas consideradas insignificantes) presença vital, quando for capaz de se espantar com a superabundância de viço de uma simples folhagem, quando sorrir diante de sua força e quando chorar por sua morte, quando decidir olhar para cada rosto como a preciosidade do mundo e quando reconhecer que cada vida é uma história e uma saudade, então você estará pronto para realmente reparar, conhecer e se emocionar com o trabalho de Araquém Alcântara.