Oportuna incursão pela linguagem: a partir das dicotomias saussureanas, esta obra chega às noções de enunciação para, daí, tentar esmiuçar o conceito de escritura, expressão criada, nessa acepção, por Roland Barthes, o semiólogo francês que perseguiu em todo o seu percurso crítico-literário o que denominou de grau zero da escritura, ou texto de fruição, aquele que se apresenta como um texto também por ele nomeado órfico, ou seja, uma forma de dizer o mundo sem jamais se repetir, sem olhar para trás, para o que já foi dito. Similar ao mito de Orfeu, no Hades, que de lá só poderia sair com sua amada se, em seu trajeto de retorno, resistisse ao desejo de voltar o rosto para ela. Este o estigma de Orfeu e também o estigma da escritura: não se voltar para o objeto amado. Atividade escritural transgressiva é o que a autora observa na fala de Barthes, uma fala que, através do poético busca alcançar o político, encontrando eco, segundo ela, na escritura de Julio Cortázar, Clarice Lispector e Octavio Paz, cujas vozes, também aqui registradas, entram em sintonia com o texto intransitivo de Barthes, em um processo intertextual, eliminando distâncias e diferenças geográficas e culturais, e aproximando, assim, o semiólogo francês destes que são, sem dúvida, alguns dos melhores escritores latino-americanos.