A ÉTICA DO SOBREVIVENTE

O livro oferece uma trajetória de duplo significado.
Ele parte em busca de uma filosofia tanto pessimista quanto otimista, para nós que sobrevivemos à sombra do evento traumático da derrocada e já próximos de abismos insuspeitados, até então inimagináveis – a título de exemplo, na possibilidade efetiva do fim do mundo, do nosso mundo, por assim dizer, no sentido literal da palavra.
Ele propõe uma leitura de Levinas. Para isso, ele se interessa mais particularmente por dois momentos da obra, digamos, simplesmente e correndo o risco de uma ligeira simplificação, o início e o fim: da derrocada pela que passa o cativo (os textos do período de guerra – os Cahiers de captivité, os romances inacabados e Da existência ao existente) até o sobrevivente e sua ética implacável.

RESENHAS

O livro de François-David Sebbah, A ética do sobrevivente: Levinas, uma filosofia da derrocada, que nos chega através do primoroso trabalho de tradução de Leonardo Meirelles, é uma ferramenta essencial não somente para quem deseja conhecer e estudar a difícil filosofia levinasiana, mas certamente para entender o que significa a condição de compartilhar o compromisso com o mundo neste desolado século XXI. Destinado imediatamente a estudiosos de Levinas e aos interessados em temas de ética e filosofia política, ainda que o ensaio não desencoraje de forma alguma os leitores não especializados, A ética do sobrevivente tem, sem dúvida, o mérito de atestar a atualidade e a força de penetração e persistência do pensamento levinasiano no coração das grandes questões éticas e políticas de nosso tempo. Mas, em se tratando de estudos levinasianos, há algo de surpreendente neste ensaio: François-David Sebbah consegue mostrar que a incondição desta impossível ética se realiza na simplicidade dos pequenos e prosaicos gestos cotidianos; que a excepcionalidade dessa ética não é nem nunca foi, de forma alguma, pura matéria de abstração filosófica, que a rigor só interessaria aos especialistas, ou heroísm