Um jovem africano ágil, astuto e feliz chega ao litoral da Bahia por volta de 1750, como tantos outros trazidos pelo comércio escravista. Este, especificamente, tinha uma missão especial traçada pelo Alto: tornar-se sacerdote e levar a todos o bálsamo da cura. Mas cruza-lhe o caminho um ávido feiticeiro das trevas, um senhor de engenho manipulado por espíritos macabros e sua jovem cunhada, cuja presença na fazenda era sempre prenunciada pela visita de cobras, compondo todos o cenário de um drama humano em que brancos e negros são movidos por um doloroso resgate cármico.
Esta é uma história real que expõe as adversidades por que passaram os negros escravos em solo brasileiro, particularmente aqueles que possuíam dotes mediúnicos. Mas não é somente a história de um escravo que tornou-se preto velho no Espaço, nem apenas mais um enredo envolvendo elos cármicos. A História de Pai Arruda mostra os escaninhos da evolução de muitos seres humanos ao longo de muitos séculos, em diversas partes do planeta, para chegar aos terreiros de umbanda da atualidade, grande cadinho onde se amalgamam almas comprometidas que resgatam dívidas pretéritas por meio da prática da caridade.
Além de nos colocar como espectadores, por trás da visão de um menino-homem predestinado ao sacerdócio, podemos testemunhar, sob sua própria ótica, como se davam os primeiros rituais afro-brasileiros numa época em que a umbanda ainda não existia, e sentir na pele o desabrochar de suas experiências mediúnicas.
A História de Pai Arruda é um romance muito envolvente e sobretudo um convite para que cada um tome a decisão de abandonar os porões escuros da própria alma, alçando voo a paragens mais luminosas, a que somente a libertação da consciência conduz.