O espírito literário de José J. Veiga se corporifica nesta obra. Em vez de ser a hora dos ruminantes, é a hora dos transeuntes, daqueles que caminham no seu trajeto de vida e lutam por sua existência. O “fantástico” veigueano se transforma em um “regionalismo real” e em uma ficção que também pode ser também universal por tratar de pessoas reais, suas raízes, seus desejos, seus sentimentos mais íntimos e suas necessidades. O cenário é a pacata vida do interior, onde um grupo de sitiantes passa seus dias sem maiores perturbações. Entretanto, a chegada de uma empresa estrangeira com seu projeto da construção de um condomínio para estrangeiros aposentados coloca os moradores em polvorosa. Ao longo dos seus 11 capítulos, que parodiam as obras de Veiga, a fala caipira dos sitiantes revela uma teia de relações humanas a qual foi perturbada pela nova ordem imposta pela empresa. Mais do que isso, a companhia se impõe à comunidade, traz seus condôminos e intenta uma convivência com os “nativos”. Lamentavelmente, o choque de cultura, de interesses econômicos, políticos e até mesmo humanos não permite a realização do sonho dos estrangeiros. E, assim, salvos pela cultura, o empreendimento fracassa e os estrangeiros abandonam seu paraíso, deixando os escombros aos sitiantes que, embora tentando reerguer suas vidas a partir das “cinzas”, voltam a ser felizes, ao seu modo peculiar de vida. Uma ficção que explora com maestria um tema que subjaz à condição humana, independente de sua localização geográfica. Prefaciado por Luiz de Aquino, membro da Academia Goiana de Letras e versado na obra de José J. Veiga, o escritor comenta que “A hora dos transeuntes” soube captar muito bem o universo literário de Veiga, produzindo boa prosa. Diz ele: “Gostei e recomendo! Acredito que José J. Veiga gostaria de ler este livro. Afinal, está aqui, em páginas e muito texto, uma homenagem póstuma ao autor goiano que mais espaços conquistou no mundo, em terras e línguas. E mais não digo: seria uma traição ao autor a revelação, de minha parte, atropelando os prazeres que o leitor encontrará no percurso da trama”.