Mais do que imagens, a poética de ousadia de Horácio Costa (escrita aqui nos 39 poemas contidos neste livro) reconstrói paisagens (por isso, um paisagismo de imagens); na sua reflexão crítica, toca, por exemplo, na modificação paradigmática do modo como as pessoas se portam, não somente ante o ato sexual recém-transformado pela época do ‘desbunde’, como os conceitos de gênero sexual e o desastre social massivo causado por uma doença que se cala e que cala as pessoas: “A AIDS cortou cerce nosso mundo. / Mas, na manhã particularmente / límpida, não me impede de sonhar.” como um círculo que se estranha e se entranha num mundo de quadrados, adquirindo em sua forma a forma de todas as coisas, e reafirmando sua objetividade lírica, este décimo terceiro livro de HC publicado no Brasil, o volume de número 11 da ‘coleção cabeça de poeta’, da martelo casa editorial, em sua ‘série contemporanea’ (que contempla a poesia brasileira novecentista em diante), permite ao leitor um duplo deleite: olhar para e refletir sobre uma das principais poéticas brasileiras contemporâneas – aquele cujo fazer se apresenta pela conjugação de refinada erudição a um deleite ora esculachado, ora em dissolução irônica, ora nos encaminhando à apreensão do estranhamento não pela imagem – mas pela paisagem. “há algo de novo na paisagem e as senhoras, ah, / têm andado mais cuidadosas com o que dizem.”