No Brasil, a invenção da tradição de cultuar, celebrar e festejar o Senhor do Bonfim relaciona-se com a figura de Theodózio Rodrigues de Faria, capitão de Mar e Guerra da Marinha portuguesa. Em 28 de novembro de 1742, o capitão Theodózio e a tripulação da nau Setúbal conseguiram aportar em Lisboa após livrar-se de um temporal que quase os fizeram naufragar. Este fato evidencia indícios da crença que Rodrigues de Faria passou a estabelecer no Senhor Bom Jesus do Bonfim – como ainda é conhecido este Santo em Portugal. Naquele ano, já em solo português e como sinal de agradecimento, o capitão e sua tripulação prosseguiram descalços em procissão levando a vela do traquete para a igreja de Nosso Senhor da Boa Morte. De retorno a Salvador em 18 de abril de 1745, o capitão Theodózio trouxe consigo uma imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim em pinho de riga medindo 1,06 de altura, semelhante àquela existente em Setúbal e, junto com Ela, em si, o desejo em continuar reverenciando e agradecendo ao Senhor Bom Jesus do Bonfim por tê-los livrado da morte. Neste sentido, as questões teóricas postas pelo historiador Eric Hobsbawm nos ajudou a pensar como na Bahia, a invenção da tradição de cultuar o Senhor do Bonfim dialoga necessariamente com a experiência vivenciada pelo capitão Theodózio Rodrigues de Faria na costa marítima portuguesa. Aos nossos dias, o culto festivo ao Senhor do Bonfim se inicia com um Cortejo de fiéis às 10 horas da manhã na segunda quinta-feira do mês de janeiro, num percurso de aproximadamente 8 km que tem como ponto de partida a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia e como ponto de chegada a do Senhor do Bonfim – entre foguetes, sinos, preces e samba.