Depois do enorme sucesso de seu primeiro romance, A consulta, Katharina Volckmer retorna aos temas de sua obsessão com o mesmo humor ácido e escandaloso que lhe rendeu comparações a Philip Roth. Narrado em um único dia, este livro pormenoriza a vida de Jimmie para dar conta da complexa relação entre corpo, nacionalidade, linguagens, afeto e mundo corporativo.
Num call center em Londres, nosso herói é um jovem gordo, gay e de origem siciliana, responsável por atender clientes insatisfeitos com suas viagens. Sejam problemas no quarto do hotel, incompatibilidade de expectativas ou desejos eróticos não atendidos, as reclamações são respondidas a um só tempo com humor e insolência. As conversas evoluem rápido para obscenidades, divertindo e espantando os colegas da central telefônica, que tentam em vão alertar o protagonista de um possível “desligamento”.
Wolf, o alemão que divide mesa com ele, sofre com a imaginação fértil do vizinho de baia. Elin é a amiga sueca e sisuda que cuida de Jimmie, guardando seu almoço e pedindo que ele se concentre em seu trabalho, atenção essa retribuída com apelidos de teor sexual. Helena, por sua vez, é catalã e rebelde: abriu mão da herança da fazenda de porcos do pai para viver o próprio desejo num ambiente de trabalho insalubre. Daniel, judeu israelense afável, é colega de Jimmie desde quando se vestiam de palhaço em festas infantis, mas passa a ser visto com outros olhos quando é promovido por Simon, superior do escritório.
Nesta Torre de Babel do século 21, acompanhamos a montanha-russa de sentimentos de Jimmie: a raiva da mãe por tê-lo feito perder o último trabalho, a insegurança com o próprio corpo, o trauma de infância que reverbera nas relações físicas e até a memória agridoce do gato Henry, que morreu em circunstâncias suspeitas.
Insubordinado e hilário, A ligação concatena reflexões sobre corpos dissidentes, imigração, identidade nacional, condições trabalhistas, maternidade e muito mais, implodindo os clichês culturais com inteligência desarmante. Além disso, é um retrato cômico do desejo humano de pertencer — e, Jimmie diria, de ser pertencido.