Entre a rua e a calçada, entre o urbano e o selvagem, entre a negligência e a sobrevida: Bartholomew Feather é um ser que narra na encruzilhada.
Em suas reflexões, transita da observação do que se entende como humano à crítica audaz ao modo como esse ente vivo ergueu a partir de si uma máquina de classificações.
Como narrar desde a errância aparentemente vista na vida cotidiana de pombos? Como perceber a potência de uma ciência que venha das esquinas e das contradições? Em "A Máquina classificatória de humanidades: escritos excrementais", Roberto Dalmo traduz as consequências de categorias centradas no humano em fenômenos como a educação, a arte, a tecnologia e a construção de saberes, a partir de uma filosofia da animalidade e de uma estética da desconstrução.
Na fronteira entre as ciências e a poesia sarcástica das ruas, o autor propõe uma maneira de ler o mundo que se aproxima da sarjeta, não para tirar a importância do humano em sua rede de relações, mas para que da lama ao caos surja um encontro entre universos que parecem distintos e distantes, mas que são no final das contas codependentes.
Olhar para o pombo que nos olha, como Jacques Derrida olhou para o
gato, como Donna Haraway olhou para o cão, como Gloria Anzaldúa olhou para a serpente, como Ailton Krenak olhou para a montanha. Ver nisso uma carta ao futuro, uma ideia para o que vem. É assim que saímos do voo irônico de Feather, com o desejo de nos desequilibrarmos para que outros mundos possam surgir."
Francielly Baliana