“A história cultural difere da história política e da história econômica na medida em que esse nome representa uma permanente consciência de sua orientação para o profundo e o universal. Este contato com o passado, que é difícil de definir, é a entrada numa esfera que é alheia a nós, uma das muitas maneiras que o homem utiliza para sair de si mesmo, para viver a verdade. Não é o deleite produzido por uma obra de arte, nem uma emoção religiosa, nem o arrepio que sentimos perante a natureza, nem o conhecimento metafísico; não é nenhuma destas coisas, e, no entanto, é uma imagem deste mesmo gênero.
O objeto sobre o qual repousa esta experiência não são figuras humanas no seu contexto individual, não é a vida humana, nem são pensamentos humanos que acreditamos ver. O que o espírito forma ou experimenta aqui raramente pode ser chamado de imagem. Quando assume uma forma, é sempre flutuante e vaga: uma intuição tanto das ruas como das casas, dos campos, dos sons e das cores, e dos homens que se movem e são movidos.
Este contato com o passado, que traz consigo uma concatenação absoluta de verdade, de autenticidade, pode ser evocado em nós por uma linha de um documento ou de uma crônica, pelos vestígios de uma gravura, por um par de acordes de uma antiga canção. Não é um elemento que o autor deposita na sua obra com tais ou quais palavras. É algo que está por detrás do livro de história e não nele. É o leitor que o traz ao autor, como resposta ao seu chamado.”