Em Visão de conjunto das neuroses de transferência, Freud refere-se à fantástica descoberta filogenética que deu lugar à neurose obsessiva. Segundo ele, num dado momento da pré-história humana, depois de ter aprendido a poupar sua libido e a reduzir sua atividade sexual por meio da regressão a uma fase anterior, a inteligência ganhou para o homem o papel principal. Aprendeu a pesquisar, a entender de alguma maneira o mundo adverso e a assegurar para si, pelas invenções, um primeiro domínio sobre esse mundo. Desenvolveu-se sob o signo da energia, formava os princípios da linguagem e precisava prestar grande importância às novas conquistas. A linguagem era para ele magia; seus pensamentos pareciam-lhe onipotentes; compreendia o mundo através de seu próprio eu. É a época da concepção anímica do mundo e de sua técnica mágica. Como recompensa pelo seu poder de proporcionar proteção de vida a tantos desamparados, arrogava-se domínio ilimitado sobre eles, defendendo, através de sua personalidade, as duas primeiras normas: sua inviolabilidade e que não pudesse ser negado a ele dispor das mulheres. No fim dessa época, a humanidade era dividida em hordas isoladas, as quais eram dominadas por um homem sábio, forte e brutal como pai.