Em 2020 Régis Bonvicino lançou o libreto Deus devolve o revólver (De Lirio Records). Os 16 poemas da obra foram gravados e transformados em um “álbum musical” com as leituras do próprio autor, do poeta norte-americano Charles Bernstein e da soprano Caroline de Comi. O trabalho contou com o tratamento sonoro de Rodrigo Dário e está disponível no Spotify, iTunes, Deezer e Youtube. Agora os 16 poemas do álbum se juntam a mais 51 outros para compor o volume A nova utopia. O novo livro de Bonvicino traz, com cruel detalhamento, o cenário atual urbano desolador. Há cimento, asfalto, meios-fios, vielas, ratos, urubus, lixo, bueiros entupidos, baratas, neons apagados, carros, chuva, crack, há marquises como abrigos. As cores são cinzentas e o cheiro é de detritos, urina e fezes. O requinte do capital, representado aqui e ali por vitrines de lojas, faz um contraponto fugaz, esmagado imediatamente pelo todo. Mendigos, por vezes coxos, são personagens constantes nos poemas. Não há saída utópica e não há lenitivo para desesperança, muito menos algo novo em que se possa agarrar em fuga da miséria humana. No poema “Nova Utopia (2)”, um dos versos dá uma pista sobre o que possa ser a definição da nova utopia: “É um morador de rua revirando uma lata de lixo seletivo”. Para o desalentado leitor da obra, restará, enfim e afortunadamente, a poesia. Livro semifinalista do prêmio Jabuti 2023.