Imigrantes alemães e nordestinos se encontram numa casa do Rio de Janeiro. O primogênito dos alemães, adventistas, corre no Circuito da Gávea, prova pioneira do automobilismo no país. Na disputa, a participação de Nino Crespi, Carlo Pintacuda e da exuberante Dona Hele-Nice. O caçula da família de Pernambuco, cuja mãe expulsa-o da carreira política, é locutor de rádio e forma-se bacharel. Esteve em Brasília antes da inauguração, da capital foi defenestrado trinta anos depois para mergulhar definitivamente nas lembranças do Recife. Antes disso, andara de pouso em pouso até que se extasiou com a aparição de uma estrela de cinema - herdeira da oficina dos alemães em seus dias de glória - em pleno centro da cidade, próximo à Cinelândia. Na convivência, os descendentes testemunham a decadência da firma, o crescimento urbano, os sonhos abandonados, o comércio da fé, a desilusão dos políticos de colarinhos frouxos: são personagens que, numa cidade entupida por automóveis de inúmeras marcas, cores, modelos, tipos de financiamento, traçam vidas comezinhas. No entanto, sob o amesquinhamento de vidas subjugadas à normalidade cotidiana, a narrativa se ilumina no cruzamento de fatos do passado, da história carioca, de referências da literatura e do cinema e de depoimentos metalinguísticos que, distorcidos, algumas vezes, até o limite do absurdo, garantem absoluta autonomia ficcional ao que se pretendeu, originalmente, memória.