A oficina do cosmógrafo é o melting-pot laborioso, o antro empoeirado e barulhento de onde saiu um mundo inteiro.Este livro retraça a gênese da obra de André Thevet (1516-1592), geógrafo e cosmógrafo que serviu à dinastia dos Valois e, no Novo Mundo , produziu o livro As singularidades da França Antártica , com uma documentação de qualidade sobre a flora, a fauna e os costumes dos índios do Brasil meridional.Analisando a geografia e a cosmografia, A oficina do cosmógrafo mostra que uma civilização é avaliada por seus mapas - eles mostram sua percepção do Outro bem como a imagem que ela se faz dela mesma. Por seu trabalho, é criado um novo Universo.A cosmografia é o único modelo que permite reunir os dois períodos divergentes de uma via e dois extratos de uma obra heteróclita. Através dela, a experiência errante dos anos de juventude e a sedentaridade da idade madura deixam de se contradizer.Os relatos de viagens ao Levante e ao Brasil dos comedores de homens estruturam a imensa compilação que se sedimenta progressivamente em torno destes dois tropismos originais.A fim de operar a fusão entre a observação e o contorno suposto, a ficção cosmográfica segundo Thevet avança algumas ideias-força, ou temas obsessivos, como se queira: o primado da experiência sobre as autoridades, a soberania de um olhar ubíquo envolvendo instantaneamente o globo terrestre e a preferência concedida, entre as fontes, aos escritos técnicos e “populares” dos pilotos e dos marinheiros.Como um ateliê de artista, a cosmografia de Thevet parece submersa na bagunça do trabalho em curso, dos estudos, dos esboços mais ou menos acabados e de um amontoado de objetos heterogêneos, cujo uso, à primeira vista, não é absolutamente necessário. Por uma rara sorte, o canteiro geográfico de Thevet foi deixado quase intacto.Thevet oferece, assim, a circunstância ideal para se faze uma “arqueologia” da ciência geográfica no Renascimento.