Como Claude Lévi-Strauss afirma numa passagem desta coletânea de textos inéditos no Brasil, “dediquei a maior parte de minha vida profissional ao estudo da mitologia [...]. Assim, eu só podia me mostrar profundamente sensível à vitalidade que os mitos conservam no Japão”. Embora o autor de Tristes trópicos só tenha observado a cultura nipônica pela primeira vez in loco quando já era quase um septuagenário, seus vínculos pessoais com o país do sol nascente remontam à infância, quando começou a colecionar estampas de artistas como Hiroshige e Hokusai.
Os textos reunidos em A outra face da Lua resultam das cinco visitas que Lévi-Strauss fez ao Japão entre 1977 e 1988. Acompanhando pesquisas etnográficas no arquipélago de Okinawa, perambulando pelas ruas apinhadas de Tóquio e estabelecendo contatos com eminentes cientistas e artistas, ele renovou sua paixão pelas obras de arte, crenças, costumes e mitos japoneses. Segundo Lévi-Strauss, nos primeiros tempos da humanidade o arquipélago japonês atuou como uma espécie de mediador entre as culturas asiáticas e ameríndias. Assim, por sua localização geográfica e pelo singular apego de seu povo às tradições arcaicas, diversas ilhas preservaram resquícios do alvorecer cultural da espécie humana. Como nota dominante do livro, Lévi-Strauss procura explicar como uma sociedade que já foi considerada o exato contrário da civilização ocidental pôde se transformar num modelo de tolerância, preservação e inovação para todo o mundo.