A história a ser lida nesta obra não se liga necessariamente à instância nacional de um povo, embora signifique a trajetória de um objeto, o livro, dentro de um espaço nacional. Mais que qualquer coisa, talvez este livro demonstre como é possível que um capital literário — e editorial — exceda a instância nacional. As flutuações, tensões, assimetrias e conflitos entre as línguas que representaram diferentes projetos político-religioso-culturais judaicos asseveram que hebraico, iídiche, inglês e espanhol, entre outras, foram línguas, se não nacionalizadas, incorporadas ao caráter pátrio dos judeus. Não que as línguas não importassem — muito pelo contrário, todas se relacionam naquele espaço de enunciação, conforme se poderá ler neste livro —, mas elas permitiram a materialização de diferentes posicionamentos frente à produção literária judaica e às grandes questões enfrentadas por esse povo na Argentina ao longo de todo o século XX.Aqui se conta uma história transnacional, mas também translíngue, que desafia “a realidade da desigualdade de acesso ao universo literário”. Se o espaço literário-editorial da Argentina é crescentemente rico no período que vai da década de 1910 até a de 1970, não é sem muito esforço que os empreendedores judeus furam, a princípio, a hegemonia da língua castelhana para oferecer aos correligionários leituras em iídiche e em hebraico.Em A pátria portátil, Alejandro Dujovne faz significar a máxima de Pessoa em toda sua beleza, trazendo ainda mais complexidade às palavras. Por mais contraditória que seja a ideia de “pátria”, que se constituiu a partir de um imaginário de fronteiras, a pátria como organização social desafia os limites e nos permite repensar suas diferentes configurações. Ampliando a noção de pátria do autor português, por esta obra, podemos dizer que minha pátria — a pátria de algum povo — são meus livros, as ruas e instituições culturais por onde suas histórias foram contadas página a página. Ao ler o livro é possível conhecer