"Tentarei lançar pelo menos um olhar sobre as consequências que tudo o que foi dito até agora pode ter para a relação metafísica do homem com o princípio de todas as coisas.
Um dos mais belos frutos que podem ser citados, referente a esse processo gradual pelo qual a natureza humana é construída a partir dos níveis inferiores da existência – um processo que tentei descrever aqui – diz respeito precisamente à necessidade interna com que o homem, no momento mesmo em que se tornou homem, graças à consciência do mundo e de si mesmo e graças à capacidade de objetivar também a própria natureza psicofísica – sinais, todos estes, inequívocos do espírito – neste exato momento, dizia, o homem também deve apreender a ideia mais formal de um ser supramundano, infinito e absoluto. Uma vez que o homem se tenha posto fora de toda a natureza – e isso coincide propriamente com sua essência, aliás é o ato por excelência do tornar-se homem – e adquiriu a capacidade de objetivá-la, naquele mesmo instante o homem se vira consternado e exclama: ‘Onde estou, então, eu mesmo? Qual é o meu lugar?’ Em tal momento o homem não pode mais dizer: ‘Eu sou uma parte do mundo e sou envolvido por ele’; exatamente naquele momento, de fato, o ser atual do seu espírito e da sua pessoa estão transcendendo as formas ontológicas daquele ‘mundo’ de tipo espaço-temporal. Ao contrário, nessa reviravolta ele afunda seu olhar no nada e nesse olhar descobre a possibilidade do ‘nada absoluto’, o que o leva a questionar-se: ‘Por que existe um mundo? Por que e como eu sou?’. Aqui é necessário compreender em uma única intuição a rigorosa necessidade da conexão que subsiste entre consciência do mundo, de si mesmo e do conceito formal de Deus.”