A primeira pedra é um livro que impacta por suas diversas camadas. Por um lado, se trata de um dispositivo de alfabetização sobre os bastidores do pluriverso cristão evangélico brasileiro. Ao mesmo tempo, um exercício literário em que Pedro Machado desenvolve aspectos relevantes sobre um mundo que, à primeira vista, atirar a primeira pedra parecia ser uma regra. Mas, como a condição humana não se curva à meia dúzia de princípios, os contos escapam de vários clichês, sejam aqueles vindos da imaginação de quem não habita os territórios evangélicos, tanto quanto sobre o que nativos cristãos protestantes pensam sobre o “mundo”. O livro é um convite para humanizar uma população atravessada por estereótipos baratos e a estética proselitista dos “donos da verdade”. Pedro Machado não se curva a nada disso, expõe as contradições humanas e explora feridas vivas junto com as cicatrizes do “pecado”. A “vida de crente” surge com minúcias e requintes dos papéis do medo e do amor vivendo lado a lado. Ao mesmo tempo que se trata de um livro para ser devorado como se o apocalipse pudesse acontecer a qualquer momento, ele também exige o tempo “certo” das coisas, o tempo de nascer, o tempo de crescer, o tempo de ler e o tempo de digerir a leitura. (Renato Noguera — escritor e filósofo)