A PROSA POÉTICA DE VIRGINIA WOOLF

Em Um canto só seu, Virginia Woolf declara que as obras-primas não nascem de partos simples ou únicos; resultam de muitos anos de reflexão em comum, de um pensar pelos corpos das pessoas, de forma que a experiência da massa esteja por trás da voz individual. A importância da colaboração – horizontal, entre pares, e vertical, por uma hierarquia geracional que pode atravessar os séculos – para a produção de boas pessoas e bons livros (estes, afinal de conta, os verdadeiros objetivos da vida, segundo as ingênuas mulheres do conto Uma sociedade) aparece em diversos momentos de sua obra, sua vida pública e privada. Seja pensando através das mães ou se organizando em uma sociedade para fazer perguntas, fomentando as artes e a cultura por meio do Grupo de Bloomsbury ou criando uma editora para se publicar bons livros que outras editoras não publicariam, a despeito de toda sua preocupação com o espaço próprio, sua individualidade e necessidade de isolamento para escrever, Woolf valorizava o conhecimento que se constrói em conjunto e que se compartilha. Vejo esta coleção sobre sua prosa poética como um desenvolvimento desse mesmo tipo de ethos: um conjunto de pensares que evoluiu da atividade pedagógica de Maria Aparecida, sempre generosa em seus convites, para incluir em condição de autoria desde colegas docentes de várias partes do Brasil e dos EUA, a estudantes de doutorado, mestrado e mesmo um graduando, valorizando a distribuição das contribuições em vários níveis de formação. Apresentados em ordem alfabética do nome, não há uma hierarquização dos ensaios relativa à titulação de quem os escreve nem à língua em que são escritos. A amplitude geográfica no Brasil e a presença das colegas estadunidenses são testemunhas da capacidade que Woolf tem de atrair pessoas de diferentes contextos e perspectivas teóricas, assim como da belíssima rede que Maria Aparecida construiu ao redor de sua pesquisa e docência sobre a autora. Fruto de uma organização também plural, c