O harmonizar de explicações, afirmações, fatos ou evidências, por meio da reflexão sobre o universo de um sujeito lírico presentificado na imagem peculiar que se mostra escondendo-se, é uma das portas que se oferece ao leitor neste trabalho realizado pela professora e pesquisadora Vanderluce Machado ao tomar como objeto de estudo a poesia de Manoel de Barros. Neste esforço crítico, destaca-se a busca por revelar um processo de escrita que vai muito além da repetição/reescritura dos poemas do primeiro livro do poeta, Poemas concebidos sem pecado, datado de 1937. Na sua incursão fundamentada e plausível pela poesia de Manoel de Barros, a autora defende que os vocábulos ressignificam em obras posteriores, ou seja, "significam novamente, haurem sentidos novos" e, por isso mesmo, humanizam em sentido profundo, porque fazem viver as sensações ali existentes com mais força de representação do que os fatos que a geraram. Em outras palavras ainda, a profusão de imagens que se apresenta ou se revela aos poucos ao leitor, mas que, ao mesmo tempo, esconde-se nas veredas de um "poetar" empreendido como se fosse "coisa menor", é desvendado ou dado à vista pelo estudo que ora se apresenta e, assim sendo, este submete-se ao exame e à apreciação tanto de estudiosos quanto daqueles que contemplam a produção intelectual de Barros. Enfim, um olhar sobre os possíveis efeitos de sentido contidos nos versos do poeta que afiança: "Tudo o que não invento é falso". Prof. Dr. Aroldo José Abreu Pinto