(Dissertações acadêmicas de Getúlio Vargas) Segundo Croce, toda história é contemporânea, ou seja, geralmente lida e interpretada à luz dos problemas e dos referenciais do presente. Mais uma razão para, no contexto da nova realidade política nacional, plena de desafios e de possibilidades, como também de possíveis frustrações, analiticamente revisitar-se a denominada “era Vargas”, que alguns já pretenderam, talvez de forma precipitada, definitivamente superada. Getúlio Vargas revela-se por vezes indefinível e mesmo enigmático, sua trajetória política refletindo as próprias flutuações e contradições do denominado projeto “nacional-desenvolvimentista”. Com relação a ele, há uma espécie de unanimidade, indicando, por um lado, a ambigüidade do legado getulista e, por outro, a ausência em nossa história política de uma alternativa ao getulismo que se tenha consolidado. Acentua-se muitas vezes o que distingue ou o que separa os diversos Vargas, ora resgatando um, ora criticando outro, ao invés de procurar ressaltar o que finalmente une os distintos Vargas, ou o que finalmente dá unidade a diferentes momentos ou a diferentes conjunturas de um mesmo projeto político. Trata-se enfim de processo social que expressões como “modernização conservadora” ou “revolução passiva”, entre outras, procuram precariamente dar conta. Em última análise, a idéia de uma via de compromisso na transição para a hegemonia política do capital industrial, estabelecendo-se então um compromisso entre elites agrária retrógradas e elites industriais modernizadoras. A política getulista representaria assim um mesmo projeto político, nacionalista e modernizador, tanto em sua versão estadonovista (37/45), como em sua versão populista (50/54). As dissertações acadêmicas de Getúlio Vargas na então Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, hoje Faculdade de Direito da UFRGS, organizadas e apresentadas por Décio Freitas, com a colaboração do jornalista Álvaro Larangeira, são peça fundamental para o resgate da formação ideológica do “mais inteligente e influente político brasileiro no século passado”, como afirma, na Apresentação, nosso grande historiador gaúcho. Espera-se, e é essa provavelmente a expectativa dos organizadores, que sirva também de material para futuros e aprofundados estudos.Confira a fanpage da Editora Sulina