(...) No prefácio que escrevi para "A Sociedade em Rede em Portugal" (uma década atrás), livro pioneiro que antecedeu e motivou o presente estudo, afirmei que vai ser preciso, nos sistemas de educação, transformá-los para que se aprenda também eficazmente a ler e a escrever na internet. A sociedade que o não fizer, que não acompanhar e transformar o sentido do que é educar no século XXI, acolhendo e assumindo esta mudança, fica irremediavelmente no século passado, envolta nos seus extremos e nas suas angústias existenciais. Para que tal não aconteça é preciso igualmente pensar um regime de serviço público, de certificação do conhecimento disponível, para a informação. A primeira Enciclopédia, mais tarde as bibliotecas públicas, mais recentemente ainda o serviço público de radiodifusão e das televisões, foram tentativas conseguidas, na sua época, de resguardar e preservar o espírito do interesse público geral. Hoje, mais do que nunca, urge complementar esse regime com um equivalente dedicado à informação que circula pelos computadores que comunicam via internet. De outro modo, veremos a identidade cultural diluir-se no consumo, e os cidadãos e os seus direitos ser progressivamente fragilizados face aos novos deveres ditados pelas necessidades "informacionais". Estamos a observar uma rápida mudança que faz lembrar uma transição de regime. Mas o mundo será o que os cidadãos fizerem dele. Temos de entender o tempo em que vivemos e perceber como chegámos aqui. É este o contributo essencial do estudo que agora se dá a conhecer ao público. Janeiro de 2015 João Caraça - Director da Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian