Ao consultar, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, jornais do ano de 1815 constatei que eles traziam relatos detalhados do acontecimento que marcou aquele ano e que ficaria para sempre na história universal: a derrota final de Napoleão Bonaparte na Batalha de Waterloo. Além da descrição do combate em si, através de oficiais que dele participaram, a imprensa registrou discursos do imperador, nos quais forjou frases antológicas como "quem deseja a paz precisa preparar-se para a guerra" e o seu inconformismo com a decisão dos ingleses (que o derrotaram, ao lado dos alemães) de deportá-lo para a ilha de Santa Helena: "Podereis levar meu corpo para Santa Helena" proclamou ele, "mas jamais levarão minha alma". Napoleão resistiu o quanto pôde ao destino imposto por Lord Wellington, recorrendo a todas as instâncias possíveis, pediu, inclusive, audiência pessoal com a Rainha Vitória na qual estaria disposto a pedir clemência e asilo perpétuo na Inglaterra. Esse vasto material jornalístico constituiu a base do texto aqui apresentado que eu chamei de "teatro jornal", pois me pareceu mais adequado dar-lhe a forma de uma peça teatral, com a ressalva de que se presta mais a uma leitura dramática do que à encenação propriamente dita. Tentei ser o mais fiel possível à linguagem da época, conservando palavras que depois caíram em desuso e com sua grafia original. Apesar de destronado, Napoleão jamais reage como quem caiu em desgraça depois de Waterloo: veste-se, no navio rumo ao exílio, com suas melhores roupas, conserva seu linguajar ferino e irônico e leva consigo uma grande comitiva, inclusive seu cozinheiro particular e boa parte dos seus bens.