Os moradores de Saturnino aprenderam a não temer a morte, pois descobriram nos canteiros da cidade uma espécie de rosa que possibilita os recém-mortos retornarem à vida. Mesmo sem compreender como tudo acontecia, o uso da tal planta se tornou frequente ao longo do tempo. O problema é que os brotos das flores diminuem ano após ano e não há nada que possa reverter tal situação. Até que a população se depara com um momento crucial: duas crianças morrem e resta apenas a quantidade para um único funeral. Como lidarão com esse impasse? Esse é o cenário de A última rosa do verão, segunda novela de Letícia Copatti Dogenski, autora que faz parte do novo fôlego da literatura brasileira contemporânea. Este novo livro, que instiga o leitor desde a premissa, comprova o que digo com passagens marcantes e uma narrativa bem costurada de propostas e possibilidades. Fugindo da trivialidade de uma narrativa linear, Letícia revela uma sensibilidade primorosa na hora de construir personagens verossímeis, com estilo norteado pelo realismo fantástico consagrado pelas mãos de Gabriel García Márquez e Julio Cortázar. Aqui, a voz da escritora dá profundidade às reminiscências de Saturnino, onde as facetas da cidade são reveladas na leitura. A jornada fascinante das personagens retratadas em A última rosa do verão leva o leitor até os primórdios de Saturnino, de onde brotam tramas profundas das famílias em xeque e suas gerações passadas. A maneira como Letícia constrói a história faz com que surjam novas sensações e descoberta a cada página. Resta saber o que decidirão perante o dilema envolvendo os dois sepultamentos e o iminente fim daquelas flores de onde a vida ressurge.